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Seja bem vindo ao meu mundo onde a fantasia é a única realidade!

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

3 calmantes para Luísa


Meu quarto estava muito escuro, alguém passou correndo por mim rindo, mas até então a criança não tinha noção que eu estava ali.
Ouvi ela cochichar no corredor "Maria voltou, deixa eu brincar com ela de novo por favor"
E então eu não estava mais no meu quarto, estava na sala, saindo pela porta em direção a garagem.
No chão havia uma pequena folha, acredito ser de rosa, manchada de várias pintinhas, abaixei pra pegar ela, a achei muito linda, mas as crianças passaram correndo novamente por mim e sopraram com o vento do corpo a folha pra longe.
Andei até o portão de casa, então ouvi uma mulher em minha cabeça dizendo "não saia, fique aqui mesmo, só observe"
Olhei pra rua e havia um homem sentado no chão, ele era como uma sombra preta e o rosto não tinha face, era uma mancha vermelha enorme achatada. Algumas pessoas com olhos amarelos e vermelhos pararam para ajudá-lo, elas falavam algo "ele está se desestabilizando" "ele precisa aceitar logo se não vai se perder" "alguém precisa buscar ajuda" "não, ela disse que não iria mais vir aqui nos ajudar, ela acha que está louca"
Então eu vi a mão seca esticando para mim
"Venha comigo, rápido"
Sai pelo portão, e as pessoas ainda não me notavam, exceto por aquela menina que ficava ao longe me observando.
Na frente de casa há um jardim. Olhei pra ele e ele estava diferente do dia anterior, uma das flores estava seca, só uma delas. Ontem a noite quando cheguei em casa me lembro de ter olhado para as flores e elas estavam todas iguais... Recém floridas.
Sai andando pela cidade e era aquele mesmo cenário de caos, haviam umas vendas de frutas e carnes na rua, mas tudo cheirava a podre.
Uma moça vendia bolos, e um deles era idêntico ao do meu noivado com meu ex, fiquei olhando, me lembrei de um sonho muito antigo que eu tive... no qual eu  falava sobre esse bolo com uma moça na praça, o quanto eu amava aquele sabor... a mesma moça ali na banca... por um momento paralisada pensei "céus, que lugar é esse".
- Eu não aguento mais isso
A menina que queria brincar comigo estava se sentando na beira da calçada comigo.
- Você vai mesmo se fechar e nunca mais voltar?
- Eu não sei Dulce, eu só não aguento mais isso, eu estou perdendo minha sanidade
- Você já ajudou tantas pessoas
- E a mim? Quem me ajudaria? É sempre tudo vazio, as visões, as premonições
- Algumas informações  chegam distorcidas até você por causa do espaço temporal
- Eu não sei mais o que pensar, eu só preciso parar pra respirar
- Sim, você precisa
E então eu estava no meu quarto, vi meu corpo tremendo na cama.
Fui até meu nariz com as mãos, e não havia ar ali.
- Maria, você não pode negar quem você é.
- Não posso, mas não é negação quando não se sabe o que negar.
- Você sabe muito bem sim o que você é. (E agora quem falava era a mulher da mão seca)
Eu senti uma vontade enorme de me aconchegar nos braços dela, de chorar sem parar, mas não fiz isso.
Eu deitei sobre o meu corpo e me aconcheguei em mim. E ali eu fiquei comigo mesma, chorando aterrorizada.
Não conseguia acordar por conta dos calmantes, mas eu não queria acordar, eu poderia ficar ali pela eternidade, só parada, no silencioso breu.
A mulher sentou aos pés da cama e me disse
- Existem mundos, um deles são das almas que se perdem, mas outro é esse no qual te trouxe hoje. Esse é o futuro, pessoas do seu mundo estão brincando com os portais, as pessoas daqui já sofreram muito, elas só querem paz, e você sabe como trazer isso a elas, não só a elas, mas aos perdidos de vários mundos. Só que isso sempre gera um sacrifício em você. Você não é louca, e quando acordar vai saber disso.
Acordei já era 8h40, eu estava muito atrasada pro trabalho.
Tomei um banho rápido, me vesti e desci pra pegar a bicicleta. E então na garagem de casa eu vejo algo (a folha na foto) e quando sai... O jardim estava exatamente como no sonho.
Só fico a me perguntar... Quantos dias eu fiquei fora dessa vez...